VIAGEM DE ORFEU AO FIM DO MUNDO
Manuel Castelin
castelinliterario.blogspot.com
brasiverso@gmail.com
LIVRO 1: INICIACÕES MARÍTIMAS
PRÓLOGO
A narração desta viagem é uma ficção
mítica que decorre na suposta transição entre a Sociedade Matriarcal e a
Patriarcal, durante o final da Idade do Bronze e da Prehistoria, mais ou menos
uma geração dantes daquela que foi à Guerra de Troya e que o vate Homero -ou um
coletivo de várias gerações de Homeros- cantaram três ou quatro séculos depois.
Também arroja olhadas ainda mais míticas sobre as eras anteriores e sobre as
intuidas pelos protagonistas como futuras.
Esta viagem percorre todo o velho Mundo
Mediterráneo, desde seu extremo oriental, o do Mar Negro, a onde vai Orfeo
(desde seu Tracia natal, país ao norte de Grécia, paralelo 42º) em busca do
Vellocino de Ouro, até seu extremo ocidental, Iberia, o País dos Mortos, que
atravessará pelo Caminho das Estrelas até chegar a Finisterre, o Fim do Mundo
dos antigos, buscando a entrada aos Infernos junto ao Oceano, para lhe pedir a
Hades que lhe devolva a sua amada esposa Eurídice, morrida no dia do casamento.
Todo quanto se conta é ficticio e imaginario, mas sempre cuidando de hilar a
trama narrativa a baseando no que se supõem dados mais ou menos especulativos,
contribuídos pela arqueologia, ou tendo em conta o que chegou até nossos dias
através das tradições orales locais, se tendo percurso muito atenciosamente, em
busca de tecer a cada pequeno achado no tapiz do conjunto, os mil quilômetros
entre o cabo de Creus e o Cabo Finisterre. Sobre o muito discutido matriarcado
prehistórico, a fonte disponível mais sugerente é Robert Graves. Sobre era-las
e raças anteriores, não se vacilou em jogar mão de outras especulações ainda
mais esotéricas, as de Helena P. Blavatsky e os primeiros teósofos, bem
compiladas por Arthur E. Powell. Se as informações contribuídas por Helena
Petrovna, supostamente recebidas por revelação, psicografías ou visão, fossem
reais, não seriam menos geniales que se mal fossem uma excelente invenção
literária. Nos dois casos, como em seu modesto desenvolvimento evolutivo, o que
escreve não é muito capaz de diferenciar entre o mítico e o místico, ou entre
História escrita pelos vencedores sobreviventes e Literatura, tanto o Exotérico
como o Esotérico lhe parecem referências inspiradoras igualmente interessantes
para elaborar o tipo de novela que bebe na fonte do legendario coletivo.
VIAGEM DE ORFEO Ao FIM DO MUNDO
0- O MISTÉRIO
-?O laberinto é um mistério, ninfa
minha?- disse interiormente Orfeo enquanto rasgueaba sua lira para sua amada-.
? O laberinto é o caminho da vida de si a si, o escuro mistério de minha vida,
que tu presides, lua-recordo que alumias minha noite sem tí?.- A lua cheia
assomava por trás das montanhas litorais do País dos Gal e a luz ainda rojiza
do disco naciente ressaltava o caminho do Laberinto Ancestral sobre o arqueado
lombo do Monte Pión, no arranque do Cabo da Nave de Hermes, cuja silueta
triangular se recortava em seu extremo como a vela de uma embarcação que
enfrentasse valentemente as brumas do Grande Rio Oceano, o que rodeia os
Infernos. -Ánima amada, cara metade de minha alma, lua Eurídice ?seguiu
susurrando baixinho-, alumia esta noite escura minha, me inspira, me ajuda a
penetrar o mistério, para que Hermes e Hades me permitam depois penetrar ao
Mundo Subterrâneo em teu resgate.- A lua ia ascendendo, grande e sangrenta, e
agora alumiava perfeitamente toda a praia de Mar de Afora, a sucessão de ondas
fragorosas de suas rompientes e, ao outro lado, o contorno de enorme baleia do
chamado Cabo do Fim do Mundo, em cujo faro terminavam sua viagem os peregrinos
do Caminho das Estrelas. -Lua Eurídice de meu coração ?Invocou Orfeo já posto
em pié de cara ao disco e em voz alta, fazendo com as mãos o gesto ritual de
salutación à Deusa-? através de meu amor por ti me dirijo ao Feminino
Universal, à Senhora do Mistério Mesma, a Ti, Lua Cósmica que gestas e nutres
nossa Evolução, para te rogar que me ajudes a compreender o sentido do
laberinto de minha vida, ao menos o suficiente para poder ser admitido no Reino
dos Mortos, onde meu amor me espera.-
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