quarta-feira, 27 de novembro de 2019

VIAGEM DE ORFEU AO FIM DO MUNDO



VIAGEM DE ORFEU AO FIM DO MUNDO

Manuel Castelin
castelinliterario.blogspot.com
brasiverso@gmail.com

LIVRO 1: INICIACÕES MARÍTIMAS


PRÓLOGO

A narração desta viagem é uma ficção mítica que decorre na suposta transição entre a Sociedade Matriarcal e a Patriarcal, durante o final da Idade do Bronze e da Prehistoria, mais ou menos uma geração dantes daquela que foi à Guerra de Troya e que o vate Homero -ou um coletivo de várias gerações de Homeros- cantaram três ou quatro séculos depois. Também arroja olhadas ainda mais míticas sobre as eras anteriores e sobre as intuidas pelos protagonistas como futuras.







Esta viagem percorre todo o velho Mundo Mediterráneo, desde seu extremo oriental, o do Mar Negro, a onde vai Orfeo (desde seu Tracia natal, país ao norte de Grécia, paralelo 42º) em busca do Vellocino de Ouro, até seu extremo ocidental, Iberia, o País dos Mortos, que atravessará pelo Caminho das Estrelas até chegar a Finisterre, o Fim do Mundo dos antigos, buscando a entrada aos Infernos junto ao Oceano, para lhe pedir a Hades que lhe devolva a sua amada esposa Eurídice, morrida no dia do casamento. Todo quanto se conta é ficticio e imaginario, mas sempre cuidando de hilar a trama narrativa a baseando no que se supõem dados mais ou menos especulativos, contribuídos pela arqueologia, ou tendo em conta o que chegou até nossos dias através das tradições orales locais, se tendo percurso muito atenciosamente, em busca de tecer a cada pequeno achado no tapiz do conjunto, os mil quilômetros entre o cabo de Creus e o Cabo Finisterre. Sobre o muito discutido matriarcado prehistórico, a fonte disponível mais sugerente é Robert Graves. Sobre era-las e raças anteriores, não se vacilou em jogar mão de outras especulações ainda mais esotéricas, as de Helena P. Blavatsky e os primeiros teósofos, bem compiladas por Arthur E. Powell. Se as informações contribuídas por Helena Petrovna, supostamente recebidas por revelação, psicografías ou visão, fossem reais, não seriam menos geniales que se mal fossem uma excelente invenção literária. Nos dois casos, como em seu modesto desenvolvimento evolutivo, o que escreve não é muito capaz de diferenciar entre o mítico e o místico, ou entre História escrita pelos vencedores sobreviventes e Literatura, tanto o Exotérico como o Esotérico lhe parecem referências inspiradoras igualmente interessantes para elaborar o tipo de novela que bebe na fonte do legendario coletivo.



VIAGEM DE ORFEO Ao FIM DO MUNDO


0- O MISTÉRIO

-?O laberinto é um mistério, ninfa minha?- disse interiormente Orfeo enquanto rasgueaba sua lira para sua amada-. ? O laberinto é o caminho da vida de si a si, o escuro mistério de minha vida, que tu presides, lua-recordo que alumias minha noite sem tí?.- A lua cheia assomava por trás das montanhas litorais do País dos Gal e a luz ainda rojiza do disco naciente ressaltava o caminho do Laberinto Ancestral sobre o arqueado lombo do Monte Pión, no arranque do Cabo da Nave de Hermes, cuja silueta triangular se recortava em seu extremo como a vela de uma embarcação que enfrentasse valentemente as brumas do Grande Rio Oceano, o que rodeia os Infernos. -Ánima amada, cara metade de minha alma, lua Eurídice ?seguiu susurrando baixinho-, alumia esta noite escura minha, me inspira, me ajuda a penetrar o mistério, para que Hermes e Hades me permitam depois penetrar ao Mundo Subterrâneo em teu resgate.- A lua ia ascendendo, grande e sangrenta, e agora alumiava perfeitamente toda a praia de Mar de Afora, a sucessão de ondas fragorosas de suas rompientes e, ao outro lado, o contorno de enorme baleia do chamado Cabo do Fim do Mundo, em cujo faro terminavam sua viagem os peregrinos do Caminho das Estrelas. -Lua Eurídice de meu coração ?Invocou Orfeo já posto em pié de cara ao disco e em voz alta, fazendo com as mãos o gesto ritual de salutación à Deusa-? através de meu amor por ti me dirijo ao Feminino Universal, à Senhora do Mistério Mesma, a Ti, Lua Cósmica que gestas e nutres nossa Evolução, para te rogar que me ajudes a compreender o sentido do laberinto de minha vida, ao menos o suficiente para poder ser admitido no Reino dos Mortos, onde meu amor me espera.-

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